Agosto verde, primeira infância e eleições

Bullying e perseguição não são o melhor exemplo para as crianças que serão os adultos do futuro

 

Ainda pouco difundido na mídia, o Agosto Verde é uma campanha nacional com iniciativa do Ministério da Cidadania, realizada por meio da Secretaria Nacional de Atenção à Primeira Infância (SNAPI). O objetivo da campanha é promover e dar visibilidade à pauta da primeira infância no Brasil durante o mês de agosto.

 

Em 2016 foi aprovada a Lei n.º 13.257 que instituiu o Marco Legal da Primeira Infância. O objetivo foi estruturar um projeto que unisse várias áreas de atuação voltadas à infância. A Unicef também instituiu o dia 24 de agosto como o Dia da Infância para que todos refletissem sobre as condições das crianças no mundo e em agosto de 2023 foi sancionada a Lei n.º 14.617, sendo escolhido o mês de agosto como o mês da Primeira Infância.

 

Todas essas ações mostram o quanto é importante olharmos para a primeira infância e integrarmos várias áreas para que as crianças sejam vistas e cuidadas desde a gestação, nascimento e a chegada aos seis anos de idade, que encerra este importante ciclo.

 

São nesses primeiros anos de vida que ocorrem o amadurecimento do cérebro, a aquisição dos movimentos, o desenvolvimento da capacidade de aprendizado, além da iniciação social e afetiva. Através de nossa orientação, educação e supervisão, a criança começa a desenvolver a autonomia, que será essencial para seu crescimento. Mas, além de tudo isso, nós como cuidadores delas e cidadãos precisamos cada vez mais ter atenção nesse período da vida delas pensando em prevenção.

 

Prevenção de danos irreparáveis como o bullying e o stalking tão presentes no próximo período da vida delas, que é adolescência. Infelizmente, foi por causa dessa prática tão nefasta que o aluno do Colégio Bandeirantes tomou a decisão de tirar a própria vida.
Não podemos ser permissivos e ter apenas a postura de apenas lamentar o ocorrido, precisamos colocar em prática as atitudes para a prevenção de problemas como esse na primeira infância. Se quisermos, que os adultos sejam mais empáticos e tolerantes no futuro. Tolerar o que você não gosta ou não concorda também é uma atitude de amor. Imagine, se na escola ele tivesse tido amigos amorosos que o ajudassem e se posicionassem perante aos outros colegas que falassem: “- Bullying aqui não!”.

 

A comunicação não violenta precisa ser pauta nas escolas e famílias. A comunicação em sua essência com o falar e ouvir de coração aberto, se colocando no lugar do outro possibilita a conexão verdadeira.
Acredito que todas as crianças são um espelho dos adultos que mais convivem, mas também creio que a mídia tem um papel educativo e elucidativo em muitos momentos. Quando vemos na TV candidatos à prefeitura da maior cidade da América Latina aos berros, proferindo palavras pesadas uns para os outros com o intuito de desmoralizar e humilhar seus oponentes, isso me faz pensar: “- É, parece que bullying não ficou apenas na adolescência e ele partiu para a vida adulta também”.

 

Precisamos investir, proteger e cuidar de nossas crianças. Desenvolver o seu emocional e ensinar desde bem pequenos a tolerar o diferente, a trocar ideias com tranquilidade e estimular uma comunicação não-violenta. Garantir ambientes saudáveis e seguros para que desempenhem todo seu potencial e tenham um alicerce firme para que cresçam como adultos com valores, fortes emocionalmente, com lindas lembranças e prontos para encarar os desafios e obstáculos da vida sem perseguir e nem passar o outro para trás.
Cuidar da primeira infância é cuidar do futuro e prevenir danos irreparáveis. Criança não vota. Cabe aos adultos levantar a bandeira do Agosto Verde por todos os meses do ano.

 

Juliana Muniz é mãe de dois filhos e enfermeira pediátrica com especialização em segurança e prevenção de acidentes na 1ª infância