PL da Dosimetria pode reduzir pena de Jair Bolsonaro para cerca de 19 anos, diz relator

O Projeto de Lei da Dosimetria reacendeu um dos debates mais delicados do cenário político brasileiro: até que ponto é possível ajustar penas já definidas pelo Supremo Tribunal Federal sem abrir brechas para questionamentos sobre a solidez da Justiça? O texto em discussão no Congresso surge em meio à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão, resultado de acusações ligadas a crimes como tentativa de golpe de Estado, organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

De acordo com o relator da proposta, a ideia não é conceder anistia ampla, geral e irrestrita, mas revisar a forma como determinadas penas foram calculadas. Essa “modulação” pode representar, na prática, uma redução significativa no tempo de prisão do ex-presidente, trazendo a pena para algo em torno de 19 anos. A mudança seria resultado de ajustes técnicos no cálculo das punições, que poderiam atingir não apenas Bolsonaro, mas todos os envolvidos nos atos de 8 de janeiro.

O que está em jogo

O texto propõe rever a dosagem das penas aplicadas, o que abre espaço para redução em determinados crimes. Essa medida pode acelerar a progressão de regime de alguns condenados e até mesmo flexibilizar a permanência em regime fechado. Embora não seja um perdão completo, como defendem setores mais alinhados ao ex-presidente, já é vista como um avanço significativo para aqueles que aguardam alternativas à decisão do STF.

O ponto central da proposta é a tentativa de conciliar interesses políticos com o respeito ao ordenamento jurídico. O relator insiste que não se trata de um enfrentamento direto ao Supremo, mas de uma iniciativa de equilíbrio institucional. Ainda assim, o tema gera polêmica: críticos acusam o projeto de enfraquecer a credibilidade das instituições democráticas ao interferir em decisões já julgadas, enquanto apoiadores o enxergam como um gesto de pacificação política.

Impactos práticos e controvérsias

Para Bolsonaro, a redução da pena pode significar a possibilidade de progredir mais cedo para regimes menos rigorosos, caso os requisitos legais sejam cumpridos. Além disso, o debate inclui propostas de tratamento diferenciado para réus específicos, como idosos ou aqueles condenados por delitos considerados de menor gravidade.

No entanto, há resistência tanto dentro da oposição quanto entre setores da base governista. Parte dos parlamentares insiste na anistia total, enquanto outros defendem ajustes graduais. Esse impasse revela como o tema vai além da técnica jurídica e se insere em uma disputa simbólica sobre o futuro político do país.

Uma decisão que pode marcar época

A discussão sobre a Dosimetria ultrapassa os limites do caso Bolsonaro. Trata-se de um teste para as instituições democráticas, que precisam lidar com a pressão de grupos polarizados e, ao mesmo tempo, preservar a coerência do sistema judicial. A forma como o Congresso decidirá avançar definirá não apenas o destino jurídico do ex-presidente, mas também o tom das relações entre Legislativo, Judiciário e sociedade.

No fundo, o debate sobre o PL da Dosimetria escancara uma pergunta maior: o país está disposto a rever decisões judiciais em busca de uma reconciliação política ou prefere manter intacto o rigor das punições em nome da estabilidade institucional? A resposta a essa questão será decisiva para o rumo da democracia brasileira nos próximos anos.