Choque partidário no Executivo: União Brasil afasta ministro do Turismo e escancara tensão política

O cenário político nacional atravessa mais um momento de turbulência: o União Brasil decidiu afastar o ministro do Turismo, Celso Sabino, de suas funções partidárias. A medida ocorre após resistências do titular em deixar o governo, mesmo diante da determinação interna de filiados da sigla ocupantes de cargos no Executivo federal se desligarem da administração pública.

A crise tem origem em um posicionamento de dissensão: o partido — que definiu rompimento com o governo federal — exigiu que seus membros no Executivo federal deixassem suas funções. Sabino, porém, insistiu em permanecer no Ministério do Turismo, especialmente por vínculos com os projetos em curso para o evento climático que o Brasil sediará. Essa atitude foi interpretada pelos dirigentes partidários como ato de “infidelidade política”.

A Executiva Nacional reagiu com rigor. O afastamento do ministro inclui a remoção de suas atribuições na direção partidária e do controle do diretório estadual do Pará, sua base política. Além disso, foi conduzido um processo disciplinar em curso, com encaminhamento ao conselho de ética da legenda. O partido fixou prazo de até 60 dias para a deliberação sobre eventual expulsão.

Do ponto de vista institucional, o ministro permanece no exercício de suas funções no governo. Ou seja: o afastamento ocorre apenas no âmbito partidário e não interfere — até o momento — nas atribuições da pasta. Sabino justificou seu posicionamento afirmando que seu desligamento, a menos de um mês da realização de uma grande conferência internacional de clima que o Brasil organizará, traria fragilidade aos trabalhos já iniciados no ministério.

No núcleo da controvérsia está o conflito entre lealdade partidária e continuidade administrativa. Para o União Brasil, é inaceitável que um ministro desrespeite decisão coletiva da sigla, sobretudo quando esta escolheu oposição ao governo federal. Para Sabino, há uma questão de prioridade nacional: o evento climático que ocorrerá no Pará (e sobre o qual o Turismo tem papel central) exige estabilidade nos quadros. Ele considera que a decisão partidária é precipitada — e que os momentos críticos exigem diálogo e negociação.

A polarização ficou ainda mais clara nas declarações de figuras influentes da sigla. Alguns membros mais alinhados ao núcleo de direita repudiaram a permanência do ministro no governo, chamando sua atitude de “traição” à linha partidária. Já aliados do titular argumentam que sua permanência prova comprometimento com resultados práticos, e não apenas com alinhamentos partidários.

A manobra pode gerar reflexos eleitorais. Se Sabino for mantido no cargo e ainda assim perder o controle da estrutura da sigla, pode enfrentar dificuldades futuras para disputar mandatos pelo partido, sem base organizativa local. Há ainda a possibilidade de migração para outra legenda, dependendo do desfecho do processo disciplinar.

Para o partido, o episódio reforça uma lógica de controle e coesão interna: enviar recado claro sobre quem pode se afastar da disciplina partidária e sob quais circunstâncias. Para o governo, a permanência de Sabino simboliza desafio de manter articulação com partidos que adotam postura ambígua entre oposição e aliança.

Acima de tudo, essa crise evidencia um dilema recorrente na política brasileira: até onde partidos podem exigir obediência absoluta de seus membros quando esses ocupam cargos no Executivo? E até que ponto a lógica ambiental — representada pela realização da conferência climática — serve como argumento legítimo para contestar determinações partidárias? A resposta dependerá dos rumos que esse impasse tomar nas próximas semanas.